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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Arte | Perspectiva e Ponto de Vista

A perspectiva nas suas diversas formas, permite-nos obter uma imagem bidimensional do mundo complexo e tridimensional que percepcionamos. A ideia de perspectiva permite-nos criar um sistema de representação do mundo em apenas duas dimensões, o que a torna bastante atractiva.
Quando um artista quer transmitir uma impressão de espaço e profundidade, o segredo é a perspectiva. Alguns dos seus aspectos podem ser calculados matematicamente, mas muitos artistas obtêm resultados idênticos por meio da intuição. O ponto de vista - o ponto a partir do qual o artista e observador olham o quadro - é importante na perspectiva. Também pode ser
designado por Ponto de Fuga.
Plano do Quadro

Quando os pintores falam do plano do quadro, referem-se à superfície do quadro, plana como uma vidraça. Os artistas podem acentuar essa natureza plana com um desenho decorativo ou criar a ilusão de profundidade atravessando visualmente a vidraça e mostrando o que fica atrás dela.


Perspectiva Aérea

Também designada perspectiva atmosférica, reproduz o efeito natural da luz que faz os objectos distantes parecerem mais claros e azulados do que os do primeiro plano. Os contornos são também mais nítidos quando estão perto e menos nítidos quando estão longe. Os artistas do Renascimento acentuavam os efeitos da luz sobre a distância pintando o primeiro plano de verde, o médio de castanho e o fundo de azul. Os artistas posteriores tendem a eliminar a distinção entre as várias zonas.

A perspectiva aérea é a mais eficaz na pintura de paisagens. Estas cadeias montanhosas são azuis a uma distância média e mais claras ao fundo.


Perspectiva Linear

Se olharmos ao longo de uma estrada recta, temos a impressão de que os seus lados se vão aproximando um do outro e de que acabarão por encontrar-se num ponto designado ponto de fuga. Sabemos que , na verdade, isso nunca acontece, mas é-nos transmitida uma sensação de distância. Os artistas exploram essa lei matemática da perspectia linear, também designada perspectiva de ponto de vista único, ou de um ponto de fuga, para representar o espaço.


Sobreposição



Uma forma simples de dar a impressão de profundidade é sobrepor as figuras ou outros elementos da composição. O observador vê aí uma representação do que se passa no mundo real - uma coisa atrás da outra transmite automaticamente distância. Além disso quanto mais longe um objecto estiver, mais pequeno parece.


A Corrida, Edgar Degas, c. 1876-87


Sobrepor cavalos e cavaleiros cria a sensação de que o espaço recua.

Escorço

O escorço - técnica utilizada para representar um objecto de forma a parecer reduzido, criando um efeito de recessão - é um ecemplo radical de persectiva linear. O termo é em geral aplicado à representação do corpo humano em poses que comprimem o seu tamanho. A parte que fica mais perto de nós parece maior do que a mais afastada.

Cristo Morto, Andrea Mantegna, finais do século XV


Mestre do Escorço
Neste quadro do Renascimento, o corpo de Cristo parece curto e os pés parecem maiores do que a cabeça. A perspectiva acabara de ser descoberta e na época o escorço impressionava mais o observador do que hoje.


Ponto de Vista

Afastamo-nos automaticamente para observar um quadro de grandes dimensões mas não um quadro pequeno. Também é natural olharmos de perto uma imagem detalhada e em seguida dar um passo atrás para admirar as pinceladas, por exemplo. Numa galeria, visto que o quadro que olhamos foi provavelmente criado para decorar uma igreja, um palácio ou uma casa, estamos à mercê do curador, o responsável pelo local onde ele foi pendurado. A verdade é o que o artista decidiu de que ponto se deve observar a obra antes de a pintar. Do Renascimento ao século XX, quando se infringiram muitas regras sobre a forma de transmitir profundidade e realidade, a maioria dos artistas usava um ponto de vista único. Escolhiam um local e pintavam o que viam desse local.


Retratos

O pintor pode olhar para o modelo de baixo para cima ou de cima para baixo e isso afecta o impacto psicológico da obra, tal como uma pessoa de pé a falar com outra sentada as coloca em situação de desigualdade. Se o artista - e por conseguinte o observador - olhar de baixo o modelo, este torna-se poderoso e dominante. Se o olhar de cima, os papéis invertem-se: o pintor está numa posição de força e o modelo adquire um ar vulnerável.

Retrato de Um Halberdier, Jacopo Pontormo, c. 1528-30
De baixo para cima
Apesar da sua juventude, o jovem nobre italiano deste quadro tem um ar altivo e arrogante porque o artista, ao olhá-lo de baixo, o colocou em clara vantagem psicológica.






Auto-Retrato como Inválido, Ernst Ludwig Kirchner, 1917-20
De cima para baixo
Ao olhar o seu próprio rosto de cima para baixo e colocá-lo em primeiro plano, o pintor expressionista Kirchner realçou a sua natureza fraca. A perspectiva exagerada, que faz a cabeceira da cama parecer enorme em relação à janel, acentua o efeito.



Distorção Espacial

Distorcer a perspectiva, ou usar duas ou mais perspectivas diferentes, é pertubador, pois o nosso cérebro não consegue seguir as convenções visuais normalmente utilizadas para fazer as coisas parecerem reais.Alguns pintores, como Paul Klee, brincam com a perspectiva enquanto outros, por exemplo De Chirico, alteram as regras para nos pertubar e convencer de que estamos a sonhar. Cézanne muda de perspectiva para imitar o modo como olhamos para os objectos na vida real, observando-os de vários lados.



Musas Inquietantes, Giorgio De Chirico, 1925.

Neste quadro, De Chirico criou um beco visual com uma estrada de madeira que termina de repente. O efeito é surreal. Como se estivéssemos numa prancha de mergulho, somos bonecas comparados com os manequins do primeiro plano.


Paisagem

Numa paisagem, a linha do horizonte encontra-se à altura do olho do pintor. O artista pode maximizar a quantidade de terra visível escolhendo como ponto de vista o topo da montanha e olhando para a encosta. O ponto de vista do olho da minhoca, do qual o artista olha para cima, como se estivesse deitado no chão. Alguns artistas utilizam vários pontos de vista no mesmo quadro.




Rochas em L'Éstaque, Paul Cézanne, 1879-82.
Horizonte alto
Embora olhemos esta paisagem de cima, há uma sensação de mudança de ponto de vista, pois ela é observada de diversos ângulos, em especial no primeiro plano.

Paisagem Holandesa com Patinadores, Salomon van Ruysdael, século XVII.
Horizonte baixo
Os holandeses enalteceram o seu país plano, tornando a pintura de paisagens uma tradição nacional. Aqui o artista optou por um ponto de vista baixo para realçar a extensão do céu. Conteve a paisagem enquadrando-a à esquerda, mas sugere a sua infinitude à direita.



,in Grande Enciclopédia da Arte, Civilização Editores,lda ; Introdução à Perspectiva, Editorial Presença.