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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Arte | Luz e Sombra

Tal como a perspectiva, a luz é uma ferramenta que os artistas podem usar para tornar um quadro realista. Mostrar o jogo de luz faz os objectos parecerem tridimensionais mesmo numa tela plana. São mais claros nos pontos em que a luz incide e mais escuros na sombra. Ver a cor em termos de preto e branco chama-se "afinar".

Direcção da Luz

Quando observamos o modo como um artista emprega a luz, o primeiro ponto a considerar é a sua fonte. A forma mais fácil de o determinar é olhar para a direcção das sombras e ver onde incidem os pontos de luz. Isso ajuda a perceber se a fonte de luz está alta ou baixa, assim como de onde vem.
Qualquer que seja a sua direcção, os artistas interessados numa reprodução realista tendem a iluminar os seus quadros de modo a criar contrastes de tom. Semicerrando os olhos é mais fácil ver onde estão as principais áreas de luz e sombra. O sol é a principal fonte de luz natural. Num interior, a luz vem geralmente de uma janela, ou então o artista opta por luz artificial , que é constante e pode ser controlada.

Iluminação Frontal

Quando a luz vem de frente, incide sobre o que se passa no plano do quadro. Ilumina personagens e objectos e projecta sombras atrás deles. As sombras não se vêem. É mais vulgar, nos quadros iluminados de frente, que a luz venha de um lado, criando sombras visíveis que ajudam a definir formas e contornos.

Execução de Lady Jane Grey, Paul Delaroche, 1833


Queda de luz

Aqui a fonte de luz vai do canto superior esquerdo da tela até Lady Jane, que se encontra de joelhos. A luz destaca a sua figura contra o fundo mais escuro e segue para o rosto da sua aia.

Iluminação Posterior

Especialmente eficaz na paisagem, a luz qe vem de trás ilumina o horizonte e dirige para lá o olhar. As figuras e os objectos iluminados por detrás são escuros e indefinido, mas rodeados por uma aura de luz. Como na Iluminação Frontal, é raro a fonte de luz apontar directamente para observador, pois nesse caso tudo fica na sombra.

Cais, Claude, 1639
Clarão de Sol
Aqui o sol está perto do horizonte projectando longas sombras na direcção do observador.


Iluminação Lateral

A luz vinda da direita ou da esquerda funciona bem no caso de paisagens e naturezas-mortas, pois cria uma distribuição homogénea de luz e sombra. O artista pode mostrar toda a gama tonal do tema, o que ajuda a definir formas e tornar a obra mais convincente e sólida. Nos interiores, a luz pode vir de uma janela, muitas vezes incluída no quadro, ou ser artificial, projectada por uma vela, como lanterna ou uma lâmpada.

Rapariga com Chapéu Vermelho, Jan Vermeer, c. 1665

Iluminação Realista
Aqui, Vermeer usou a iluminação lateral para modelar a luz e a sombra ni rosto da mulher. A luz incide na diagonal para pôr em destaque o chapéu.


Iluminação a Três Quartos (3/4)

Uma fonte de luz junto a um dos cantos superiores da tela também é muito usada em interiores. Cria uma vasta gama de tons e parece empurrar os obectos para diante, tornando-os mais sólidos e realistas.

Natureza-Morta com Aves Mortas, Frutas e Vegetais, Juan Sanchez Cotan, 1602
Gama Tonal
As sombras nesta natureza-morta apontam diagonalmente para a direita, dando relevo aos objectos.


Iluminação Interior

Num quadro, a fonte de luz pode não ser exterior e irradiar do interior da imagem. Este tipo de iluminação cria uma sensação de intimidade adequada a certos tipos de pintura, como cenas da vida quotidiana. É ideal para cenas religiosas em que a luz emanda de santos e simboliza poderes divinos.

Natividade, Antonio Corregio, 1522-30
Luz Interior
Nesta cena, a luz ajuda a ver o nascimento tal como é visto pelo pastor. A luz emanada pelo Menino Jesus conduz o olhar em todas as direcções e reflecte-se no rosto de Maria.


Qualidade da Luz

Como tanto a fonte como a qualidade afectam o modo como a luz define a forma, o artista tem de decidir não só de que direcção vem a luz, como também que tipo de ilumiação deseja. A luz contribui para o espírito do quadro. Pode ser suave e discreta ou forte e agressiva. Pode criar um clarão quente ou ser refrescante como um dia de Verão. Pode criar um ambiente claustrofóbico ou uma sensação de liberdade. Como todos os aspectos de uma obra de arte, a luz não funciona isolada, mas sim em conjunção com a cor, o estilo e a técnica, para criar uma harmonia geral. Nem todos os artistas querem pintar cenas naturalistas. Para os que optam por representar sentimentos ou o mundo espiritual, na realidade, em termos de contrastes tonais, é menos importante e a iluminação pode ser uniforme e plana.

Iluminação Difusa

A luz difusa domina um quadro. Não há pontos de luz nem sombras e a gama de cores é estreita. O artista pode escolher uma luz naturalmente difusa, como a do nevoeiro, ou filtrar fontes de luz artificiais.

Caspar David Friedrich, c. 1811

Tons Suaves
um manto de neblina envolve a paisagem de Friedrich. A neve e o seu céu rosado criam duas ténues fontes de luz. À excepção da árvore escura que se destaca contra a neve, existem apenas subtis variações tonais do claro ao escuro no primeiro plano, no plano médio e no plano de fundo.

Iluminação Colorida

A luz pode dominar um quadro. Colorir a luz é uma forma de chamar a atenção para ela e afecta o quadro no seu todo, tal como os filtros em fotografia. A luz colorida cria um ambiente soalheiro ou triste. Se a luz for colorida, as sombras também o são. O contraste tonal é mais estreito com luz colorida porque até o amarelo é mais escuro do que o branco. As sombras correspondentes são, pois, mais claras que o negro.

Colhendo Maçãs em Eragny-sur-Epte, Camille Pissarro, 1888
Brilho
O sol do meio-dia enche esta cena de luz dourada, criando um ambiente quente.


Iluminação Plana

À excepção de alguma pintura chinesa, a luz e a sombra são uma obsessão europeia, em especial do Renascimento à Idade Moderna.
Os artistas que não pretendem imitar o mundo físico não precisam de usar luz e sombra para convencer as pessoas de que as suas pinturas ou os seus desenhos são tridimensionais.

Pintura de Embarcação Aborígene, s.d.
Mundos Espirituais
A viagem da alma para o outro mundo surge numa linguagem estilística que prescinde dos efeitos de luz.
Vermelho Azul, Ellsworth Kelly,1964
Relações entre Cores
A linguagem visual deste quadro não se baseia em contrastes tonais nem em fazer objectos parecerem tridimensionais.


Iluminação Forte

Uma luz forte cria contrastes tonais com pontos de luz brilhantes e sombras escuras, pondo em destaque detalhes. A luz forte produz melhores resultados quando cruza o quadro na diagonal, realçando o jogo entre extremo opostos da gama de tonalidades. O termo italiano chiaroscuro (claro-escuro) designa o modo como os artistas atribuem a luz e a sombra para representar formas.

A incredulidade de S. Tomé, Michelangelo Merisi da Caravaggio

Realismo Dinâmico
A luz forte deste quadro cria contrastes tonais dramáticos e concentra o olhar no ponto mais importante da história - o contacto entre S. Tomé e as feridas de Cristo.


Focos de Luz

Outra forma de iluminar dramaticamente um quadro é fazer um raio de luz incidir sobre determinada zona. Como num palco, chama a atenção para a secção posta em destaque pela sombra circundante.

O Sono de Endímion, Anne-Louis Girodet, 1791
Raio de Luz
Neste quadro fundem-se técnica e simbolismo. O luar simboliza a deusa romana da Lua, Diana, e chama a atenção para a beleza do corpo e do rosto de Endímion, condenado a dormir para sempre em troca de juventude eterna.


Pontos de Luz

Os artistas usam pontos de luz para produzir certos efeitos. Podem usá-los para dar brilho a uma superfície  ou mostrar o movimento da água. Visto serem os pontos mais claros de um quadro, chamam a atenção, tal como uma janela iluminada numa noite escura. Na pintura a óleo, os artistas trabalham do escuro para o claro, acrescentando os pontos de luz em último lugar. A tinta espessa reforça o efeito. Os pontos de luz não precisam de ser brancos. Velázquez, por exemplo, usava também o amarelo ou o laranja claros.

Velha Cozinhando Ovos, Diego Velázquez, 1618
Toques
Um toque de branco faz brilhar o vidrado de um simples recipiente de barro.



in, Grande Enciclopédia da Arte, Civilização Editores, Lda.

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